São Paulo — Com uma vantagem significativa sobre seu adversário Guilherme Boulos (PSol) nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ajustou sua estratégia na reta final das eleições para reduzir sua presença como “candidato” no noticiário e reforçar a imagem de “prefeito” após da crise de energia que abalou a cidade a partir da tempestade do dia 11 de outubro.
No comitê de Nunes, a orientação passou a ser “prefeitar”, um jargão usado pelas antigas gestões tucanas que significa agir como prefeito, já que sua equipe avaliou que, se ele aparentasse ao eleitor estar mais focado na reeleição do que na situação dos paulistanos sem luz, poderia ver reduzir a vantagem sobre Boulos.
Na última sexta-feira (18/10), a equipe do prefeito negociou com a TV Record para que um debate entre Nunes e Boulos, marcado para este sábado (19/10) fosse cancelado caso uma nova tempestade ocorresse. Dessa forma, ele poderia justificar sua ausência no debate sem ser acusado de “fugir” do confronto.
Na semana que vem, em vez de um evento público, Nunes se reunirá com o aliado Jair Bolsonaro (PL), um encontro aguardado desde o começo da campanha, em um evento fechado com empresários de alto poder aquisitivo. Inicialmente, a campanha havia planejado uma caminhada pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), em uma caminhada repleta de bandeiras e pedidos de voto.
Gestão de crise
A mudança de tom da campanha se deu ainda na sexta-feira, instantes após a tempestade. Nunes vestiu um colete da Defesa Civil e publicou vídeos mostrando-se em ação, ao lado de técnicos, lidando com a falta de energia. No sábado, seus compromissos de campanha foram cancelados e no domingo, pela primeira vez desde o início da campanha, ele não participou de nenhum evento eleitoral.
Já na segunda-feira (14/10), Nunes chegou a ir ao debate contra Boulos promovido pela TV Bandeirantes enquanto milhares de pessoas seguissem sem energia. Lá, ele adotou uma estratégia clara: se solidarizar com os atingidos e responsabilizar a Enel, concessionária de energia que atende São Paulo e que já havia enfrentado problemas de fornecimento em novembro do ano passado.
Boulos fez uma série de ataques à gestão de Nunes pela falta de ações de zeladoria que agravaram a crise, como poda de árvores. Mas Nunes contra-atacou, ressaltando que a fiscalização da Enel é uma responsabilidade federal — e destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apoia Boulos.
“Prefeitando”
Conforme a Enel demorava para restabelecer a energia nas áreas afetadas, ao longo da semana, a crise se intensificava. As pesquisas internas da campanha do prefeito apontaram redução de suas intenções de voto. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia a reeleição de Nunes, entrou em cena para dividir as responsabilidades e ajudar a conter o problema.
Na terça-feira, o único compromisso de campanha do prefeito foi uma entrevista à TV Globo — também centrada na crise — após um dia de reuniões articuladas pelo governador, incluindo um encontro com o Tribunal de Contas da União (TCU) para pressionar a Enel.
Na quarta-feira, Nunes faltou ao debate marcado com Boulos na RedeTV! para participar de mais uma reunião com Tarcísio e representantes da Enel no Palácio dos Bandeirantes. Ele não deu entrevistas à imprensa nesse dia.
No entanto, mesmo com Boulos intensificando suas críticas, chamando Nunes de “tio Paulo do Tarcísio”, o prefeito optou por retomar suas aparições como candidato durante a noite, após a nova pesquisa Datafolha mostrar que a queda havia sido pequena. Antes da crise, ele tinha 55% das intenções de voto e, naquele dia, 51%. Boulos manteve 33% nos dois levantamentos.
“Queda de quem? Meu amigo, eu estou liderando, estou com mais de 10 pontos na frente”, disse o prefeito, no fim da noite de quinta, a jornalistas, após sair de um evento de apoiadoras em um hotel do centro.